O homem, a arte e a sociedade no romance Toque de Arrebol, do escritor Juliano Ferro

 

Já se sabe que a arte desempenha uma importância fundamental para o homem, pois o ajuda a se ver e a ver melhor o mundo. Mas, afinal, o que é arte? Essa pergunta é difícil de ser respondida, pois ela está relacionada a uma série de fatores, inclusive ao contexto em que o examinador está inserido. Entretanto, de um modo ou de outro, pode-se dizer que ela também expressa uma sociedade e o tempo dela.

 

A partir do envolvimento com a arte, o artista consegue apreender melhor questões sensíveis do seu contexto e de si mesmo, mas a ponto de impactar sobremaneira sua vida e o conduzir a uma espécie de catarse? Parece que sim, é o que sugere o romance “Toque de Arrebol”, do escritor pernambucano Juliano Ferro.

O livro conta a história de uma advogada e de um músico que promovem experimentações de autoconhecimento e observação da sociedade, para desenvolvimento de um trabalho artístico. As reproduções não apenas os fazem enxergar melhor sua posição na sociedade, como parecem gerar conflitos nesse entendimento, com repercussões de autoconhecimento e de rupturas.

O cenário por onde os personagens se movem é o do estado de Pernambuco, que nas últimas décadas foi palco de movimentos culturais importantes, como o Armorial, promovido por Ariano Suassuna na defesa das raízes culturais nordestinas e considerado mais conservador; e o outro, do Manguebeat, cujo maior idealizador foi Chico Science. Este propunha uma renovação artística, inserindo, inclusive, elementos da cultura pop no ambiente local. Ainda hoje se verificam as influências dos dois movimentos não só em Pernambuco, mas em outros cenários artísticos brasileiros.

O romance de Juliano Ferro não é sobre os citados movimentos, mas os abrange por fazerem parte do cenário onde os personagens estão inseridos, destacando, ainda, um momento histórico e cultural, para examinar o envolvimento deles com a arte, num processo de autoconhecimento em seu mundo de polifonias. Pode-se dizer, então, que o livro é sobre a relação do homem com a sociedade, tendo na arte seu ponto forte de reflexão.

Juliano Ferro nasceu em Caruaru, no agreste de Pernambuco, e passou sua infância e adolescência em São Bento do Una. É formado em Direito e em Ciências Contábeis, com pós-graduação em “Gestão Pública” e “Literatura, Cultura e Ensino da Arte”. Atualmente vive em Recife e também é servidor de carreira da Controladoria-Geral do Estado.