Durante três dias, o Teatro Armando Gonzaga, em Marechal Hermes, foi espaço de celebração, afirmação e pertencimento com o festival “Arte no Subúrbio – O funk é mais que isso” . Realizado nos dias 23, 24 e 25 de maio, o evento gratuito reuniu artistas, produtores e o público do território em torno da potência cultural do funk, com shows, batalhas de passinho, oficinas, cinema, teatro, debates e homenagens — entre eles, a Dom Filó, MC Buchecha, Dra Marcela Alves, MC Marcinho (um memorial) e a professora Ludymilla Gonçalves.
Idealizado pela cineasta suburbana Érica Sansil e realizado pelas produtoras Dois Olhos Negros, Braba Produções e Proceder, o festival surgiu da provocação: por que o funk ainda encontra tão pouco espaço nos centros culturais formais? A resposta foi dada em forma de ocupação simbólica e concreta: o teatro, muitas vezes associado à elite cultural, foi transformado em território de arte preta e periférica.
“A gente não está pedindo licença. O funk cabe nesse lugar e transforma esse lugar. É linguagem viva, é memória, é potência”, disse Érica Sansil.
DOM FILÓ EA CELEBRAÇÃO COMO ATO DE RESISTÊNCIA
Em um dos momentos mais emocionantes do festival “Arte no Subúrbio” , Dom Filó, figura histórica do movimento Black Rio e da cultura negra no Brasil, foi homenageado por sua trajetória de luta e contribuição para a valorização da cultura negra.
Ao receber uma homenagem, Dom Filó dedicou suas palavras ao movimento negro, relembrando as dificuldades enfrentadas desde os anos 70, quando celebrar a negritude em meio à ditadura era um ato de coragem. “Eles diziam que a gente não podia celebrar nossas vidas. Mas aqui estamos. Por favor, não desistam nunca. O futuro é logo ali”, disse, emocionando o público. “A dor existe. Mas a alegria existirá de forma muito mais salutável.”
A fala foi uma convocação à resistência pela via da celebração, um lembrete de que festejar também é reivindicar existência e dignidade. Ao lado de Dom Filó, também foi homenageada a professora Ludmia Gonçalves, que atua na formação de educadores e na valorização da cultura funk nas salas de aula.
As homenagens foram a prova de que o funk, mais do que um ritmo, é ferramenta de memória, identidade e transformação.
A programação diversa e pulsante incluía ainda a exibição de filmes como As Galeras , da jornalista Juliana Portella, que resgata a história dos bailes de corredor, e A Batalha do Passinho , de Emílio Domingos; além de oficinas como o Ritual do Rebolado , com Mariluz, e oficina de passinho com DJ Seduty e DH Marcela Alves. O festival conta ainda com show de MC Cacau, rodas de conversa e ações de acessibilidade garantidas em toda a estrutura do evento.
